Abdon Marinho é advogado.

UMA iniciativa do secretário municipal de abastecimento de São Luís, Ivaldo Rodrigues, tem agitado a ilha. Falo da feirinha do produtor que acontece aos domingos na Praça Benedito Leite, no Centro Histórico da capital.

Quase todos os dias ouço elogios a iniciativa e convites: – a feirinha é ótima; – vamos à feirinha.

Por morar do outro lado da ilha, na zona rural de Ribamar, ainda não me dispus a conhecê-la. Sei, entretanto, que tem sido muito bem frequentada pelas autoridades municipais e mesmo estaduais, além da sociedade como um todo.

Além de produtos frescos, direto do produtor, a programação – religiosamente disponibilizada pela secretaria –, há uma vasta programação cultural, levando vida a um espaço normalmente

“morto” fora do horário comercial e, sobretudo, nos fins de semana e feriados.

O sucesso é tamanho que dia desses li num veículo de comunicação qualquer que tal trabalho credencia o atual secretário a disputar o cargo maior do paço municipal.

A assertiva reflete duas coisas: o quanto o centro histórico cativa nossa população e o quanto esta mesma população encontra-se à míngua de perspectivas.

O secretário – a quem estimo muito –, possui inúmeros talentos a credenciá-lo e, certamente, é merecedor do sufrágio dos seus concidadãos, pelo menos tem sido eleito em sucessivos mandatos a vereador, entretanto, não é uma feira (na verdade, um feirinha, no diminutivo), que credencia alguém a qualquer coisa, muito menos ao cargo de prefeito.

O que, entretanto, se torna presente na ideia que uma feirinha credencia a candidatura de alguém a um cargo político é o desejo da nossa população em ver Centro Histórico da capital devolvido aos seus habitantes.

Infelizmente nossas autoridades não conseguem enxergar isso.

Outro dia li que um país do leste europeu estava retomando sua arquitetura clássica – se não me falha a memória –, a Hungria, que estaria remodelando seus caixotes de concreto e ferro do tempo do comunismo e devolvendo-os às cidades com sua arquitetura histórica.

Leio e ouço de muitos colegas comparações que que o nosso centro é uma espécie de “pequena Lisboa”. O que não deixa de ser verdade.

Ora, apesar disso de tanta riqueza histórica e cultural, este é um patrimônio que se esfacela a cada dia que passa, seja pela ação dos homens, seja por sua inação. Os prédios estão ruindo, as pedras de cantaria e azulejos sendo roubados e vendidos “no quilo” nas imediações do Mercado Central.

Desde o governo Cafeteira I1986-1990), ou seja, há quase trinta anos que não se ver uma intervenção séria no Centro Histórico de São Luís – quando muito uma ação isolada aqui ou ali –, tal abandono tem suscitado questionamentos se a cidade merece ou não ostentar o título de Patrimônio da Humanidade concedido pela Unesco.

O projeto Reviver precisa ser retomado, recuperado o que se perdeu e ampliado para as demais áreas do centro.

Lembro que quando foi entregue no governo Cafeteira a revitalização de parte do Centro Histórico, mais precisamente o setor da Praia Grande, a população voltou a ocupar aquele espaço – e ainda hoje, apesar do abandono e violência que toma conta da região –, continua frequentando, sobretudo quando lá é desenvolvida alguma programação artística e cultural.

Entendo, entretanto, que isso é muito pouco.

O governo estadual, – em conjunto com a prefeitura e com o apoio do governo federal –, precisa traçar uma estratégia de ocupação do centro da cidade, traçando um perímetro do Parque Urbano Santos à Praia Grande e da Praça Gonçalves Dias à Madre Deus.

Isso será feita com a desapropriação dos prédios abandonados e que estão ruindo ou virando estacionamentos privados.

Acredito, até, que muitos proprietários não entregam estes prédios ao Estado por falta de inciativa deste em cobrar que os recupere ou lhes dêem um destino útil.

Acredito, inclusive, que se o governo estadual propuser o pagamento das indenizações desapropriatórias de forma parcelada, poucos seriam os que recusariam.

Mas para isso, precisamos de governantes que vejam além das próxima eleições, que pensem o Estado para os próximos 30, 50 ou 100 anos.

O passo seguinte às desapropriações ou aquisições, seria o Estado transformar em apartamentos e/ou residências multifamiliares, estes imóveis. Podendo destinar uns outros a escritórios ou empresas coletivas.

A ideia proposta é que ao invés dos governos incentivarem residenciais no “meio do nada” na zona rural da ilha, tendo que gastar com infraestrutura viária, de transporte, escolas, etc., traria estas pessoas para habitarem o Centro, onde grande parte da infraestrutura já está posta, bastando para tornar o Centro bem melhor, investimentos em segurança, iluminação.

Quem não gostaria de morar a 10 ou 15 minutos do serviço ao invés de morar a dezenas de quilômetros do mesmo, perdendo, na maioria das vezes, uma ou duas horas (às vezes mais) apenas com deslocamentos?

Infelizmente, até aqui, os governos têm trabalhado em sentido inverso: abrem verdadeiras “feridas” em áreas rurais – que deveríamos preservar –, e levam multidões para locais com os quais estes não possuem quaisquer afinidades, levando junto, além da destruição ambiental, já referida, levam a violência, a insegurança às famílias, tantos as que estavam lá, quanto às que chegam.

A política de ocupação do solo urbano é caótica, desumana, onerosa e irresponsável, demonstrando um claro descompromisso com o futuro.

Mais, acabam causando ônus financeiros astronômicos nas finanças públicas para fazer chegar a estas áreas distantes os serviços básicos essenciais.

A forma como a Ilha de São Luís vem sendo ocupada é criminosa, com esta e com as futuras gerações, ainda mais quando vemos na outra ponta da história, o maior patrimônio

de todos os maranhenses se dissolver pela água das chuvas, ser dilapidado, saqueado e vendido por marginais.

Imagino em como seria um sonho se possuíssemos autoridades verdadeiramente comprometidas com este patrimônio, que tivessem uma dimensão do que tanta riqueza significa, e que tivessem um plano para ele.

A verdadeira riqueza do Maranhão (de São Luís, principalmente) é o seu patrimônio histórico. Este é o primeiro bem a ser preservado, mesmo porque, para reconstruir não é fácil. Não podemos andar na contramão da história.

As autoridades não terão que reinventar a roda, basta olhar os exemplos de outras capitais com patrimônio histórico semelhante ao redor do mundo. Só isso.

A cidade precisa pulsar de forma contínua e não ser frequentada por ocasião de um show, um festival de reggae, uma feirinha ou uma programação cultural qualquer. A cidade precisa estar viva. E quem lhe dar vida são seus habitantes.


ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Parlamentar também anunciou a convocação de secretários para prestar esclarecimentos O vereador Astro de Ogum (PCdoB) ...
Nesta segunda-feira (22), o deputado estadual Wellington do Curso participou da aula inaugural de curso de ...
Dois motoqueiros chegaram ao local e um deles desceu e foi logo atirando contra a vítima ...
Após tomar todas, o homem deixou claro que não iria pagar a conta por ser policial ...
O antigo campo de futebol Poeirão, em Cantanhede, ganhou status de Arena de Futebol. A extraordinária ...
Um assalto ocorrido em frente ao Shopping da Ilha, em São Luís, causou pânico e muita ...

Acompanhe o Blog do Luis Cardoso também pelo Twitter™ e pelo Facebook.